quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Ode às palavras

O que acontece com as palavras ditas? Elas mergulham no abismo do vácuo desde o trampolim da língua, encontrando no vazio, o cemitério das palavras. Estocadas ali, ficam à espreita de uma brecha para retornarem ao mundo nosso, pairando por entre os batons borrados dos amantes, por entre as lágrimas dos solitários ou por entre a fumaça dos fumantes. As palavras ditas encontram uma inércia incessantemente incomoda, pois paradas estão, e continuam paradas, e paradas continuam. Quando adentram nos ossículos do ouvido, elas falam entre elas e discutem quem chegará primeiro ou quem será perdida no caminho. As palavras têm vida própria e tem sinônimos, e a principal fobia é que caiam em desuso. As palavras são des tru            ídas com um sopro. As palavras ditas não precisam de metáforas, elas mesmas o são. Os vocábulos assassinam corações, aspirações, sonhos. Nada é mais poderoso do que uma palavra. E as palavras sabem disso, conhecem seu poder e psicopateiam os humanos indefesos. Escrever uma palavra é imortalizá-la, é aceitar sua real importância e atribuir-lhe o merecido valor. Uma palavra pode ser como um muro trincado e sem cimento e sem argamassa e sem espaço ou tempo. Uma palavra não tem tamanho específico, ela aumenta e diminui dependendo de onde é usada. As palavras não estão subordinadas à nada ou ninguém, elas são independentes e atrozes. Correm mais rápido que uma bala e mais devagar que uma lesma gosmenta. As palavras são o que nós somos. As palavras podem ser mentira, ou verdade. São como células do corpo, que absorvem nutrientes e os produzem. Por isso, faço uma ode à elas: agradeço e desagradeço. Mas continuo usando-as mais do que um bebê usa chupeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário