Você entra na sala disposto a deixar o
relógio do lado de fora, mas o mau humor acumulado no dia ainda repousa nas
suas têmporas arqueando levemente suas sobrancelhas. Sentado no seu tapete você delimita seu
espaço, ciente e sedento por explorá-lo com todo seu corpo - esticando,
dobrando, sentindo. Durante aquele
momento você tenta se desapegar do material, do corpo, das dores. Sentindo
aquele calor - que no momento é só calor, mas depois você percebe que é energia
dissipada - você tenta se esquecer da dor dos seus músculos e do fiozinho de
cabelo que dança na sua pele suada da nuca.
E a cada movimento um pequeno pedaço do seu corpo se transparenta,
transparecendo cada vez um pedacinho maior de alma. Ninguém te olha, ninguém te
julga, inclusive você mesmo passa a se aceitar. O mundo lá fora continua e você
nem se dá conta de que ele existe.
Aquele momento é seu e só seu, você percebe. Sua mente escapa do seu
corpo pairando sobre algum problema, sobre situações cotidianas, mas cabe a
você trazê-la de volta àquela paz que você mesmo esta a construir. Mas a dor no
abdômen, os braços espasmáticos e o suor são obstáculos difíceis, nunca te
impedindo de tentar esquecê-los. Ou abraça-los. Você deita no próprio eixo
embalado por endorfina, ar, música, chuva. Seus músculos faciais repousam na
sua pele pálida e contorcem-se em canais para drenar as lágrimas. E as lágrimas
coreografam o sentimento, que não se pode pensar apena sente-se. O esboço de um sorriso aparece e o calor vai
sumindo, permanecendo apenas o conforto da própria sensação e o arrepio do
perdão. Você se perdoa, se aceita e recebe de você pra você mesmo aquela
energia presa. A mente larga a chave da energia crescente que agora como uma
áurea banha teu corpo. E aí você percebe que o que cai dos seus olhos não são lágrimas.
São pedaço de alma que agora notam que o importante é o presente, não o que foi
e nem o que virá.
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