sexta-feira, 13 de julho de 2012

Entalpia


Você entra na sala disposto a deixar o relógio do lado de fora, mas o mau humor acumulado no dia ainda repousa nas suas têmporas arqueando levemente suas sobrancelhas.  Sentado no seu tapete você delimita seu espaço, ciente e sedento por explorá-lo com todo seu corpo - esticando, dobrando, sentindo.  Durante aquele momento você tenta se desapegar do material, do corpo, das dores. Sentindo aquele calor - que no momento é só calor, mas depois você percebe que é energia dissipada - você tenta se esquecer da dor dos seus músculos e do fiozinho de cabelo que dança na sua pele suada da nuca.  E a cada movimento um pequeno pedaço do seu corpo se transparenta, transparecendo cada vez um pedacinho maior de alma. Ninguém te olha, ninguém te julga, inclusive você mesmo passa a se aceitar. O mundo lá fora continua e você nem se dá conta de que ele existe.  Aquele momento é seu e só seu, você percebe. Sua mente escapa do seu corpo pairando sobre algum problema, sobre situações cotidianas, mas cabe a você trazê-la de volta àquela paz que você mesmo esta a construir. Mas a dor no abdômen, os braços espasmáticos e o suor são obstáculos difíceis, nunca te impedindo de tentar esquecê-los. Ou abraça-los. Você deita no próprio eixo embalado por endorfina, ar, música, chuva. Seus músculos faciais repousam na sua pele pálida e contorcem-se em canais para drenar as lágrimas. E as lágrimas coreografam o sentimento, que não se pode pensar apena sente-se.  O esboço de um sorriso aparece e o calor vai sumindo, permanecendo apenas o conforto da própria sensação e o arrepio do perdão. Você se perdoa, se aceita e recebe de você pra você mesmo aquela energia presa. A mente larga a chave da energia crescente que agora como uma áurea banha teu corpo. E aí você percebe que o que cai dos seus olhos não são lágrimas. São pedaço de alma que agora notam que o importante é o presente, não o que foi e nem o que virá. 

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