terça-feira, 16 de outubro de 2012

Máscaras Vazias

Tamanho sentimento que me atravessa
como o Sol à um vitral
esquentando minha pele
E pelos sulcos, os poros
Esvai-se o medo de que no fundo sejamos
Os mesmos,
Porém diferentes.

A lágrima seca percorre os sonhos
Que desembarcam no cais
Escuro da cidade e da multidão
Onde todos são e usam máscaras.
São vazias e estáticas
girando como um peão viciado e cego
rumo à si mesmo.
Desemoções, desentimentos, desespero.
Mas e os rostos?

Escondidos atrás do disfarce
estão a sede pela utopia e
pelas paredes reconfortantes dos meus neurônios.
A fuga parece tentadora
de mãos enredadas com a solidão pulsante do ser,
que agora não mais vive
além das fronteiras do sonho.

Pena que sonhar às vezes seja chato.

domingo, 7 de outubro de 2012

Submundo


No escuro é quando notamos que o tempo não existe. Na escuridão os minutos podem facilmente ser horas, dias, anos. A vida é estruturada em referenciais e já estou há tanto tempo preso aqui dentro que já nem mais abro meus olhos, os mesmos que agora repousam atrofiados por sobre a minha pele (antes) branca. Mas na escuridão não existem cores, nem emoções, nem espaço para o medo.  Sei que meu estômago se acostumou com a escassez e quimiosintetiza a partir da escuridão algum nutriente que as vezes parece ser minha própria pele, minha carne, meu sangue. O desespero inicial já se calou, talvez evaporando das primeiras vezes que utilizei minhas mãos e garras para capturar aquelas criaturinhas peludas que circulam corriqueiramente no submundo em que me encontro. Custa-me lembrar de minha cara peluda, meus olhos negros, de minha figura. Tampouco tenho sucesso ao tentar recordar como vim parar aqui ou o motivo. Minhas articulações doem e a dor é resultado da falta de espaço. Esgueiro-me por estes finos corredores de concreto (parecem de concreto) sem saber ao certo para onde vou. Exercito minha mente na tentativa de manter-me lúcido, mas quase tudo parece ser em vão. Do passado, talvez lembre apenas das correntes que prendiam meus pulsos.  Quem sou permanece como o maior enigma imposto ao meu limitado, porém real mundo.  As ambições humanas do pêndulo de Schoppenhauer  são tão ilusórias e abstratas como minha própria noção de mundo. Meu corpo se adaptou para hidratar-se apenas do desejo de liberdade. Imaginem-se durante significativo tempo apenas sentindo uma textura, apenas ouvindo seus próprios sons e imobilizados pela matéria circundante que impede o estiramento dos braços. O fio da vida era no início fibra de metal e agora não passa de um tecido fino e esfarrapado, prestes a se romper com um sopro. A espera pela morte nunca foi tão tentadora, mas o esgotamento metabólico aceleraria tudo. Pelo menos isso eu achava. Que tipo de animal me tornei?  Espere. Senti algo. De. Metal. Algo de metal. Que aroma mais poderoso de ferro. A eletricidade paira no ar. Estico minhas articulações que agora tem espaço. Cambaleante e reaprendendo a andar. Resta-me rir. Avisto uma luz, e como é bela. Meus ouvidos vibram com sons estimulantes! Subo no que me parece a plataforma de uma estação de trem. A confusão é geral. Olhos me encaram, gritos se me dirigem, as pessoas estão correndo. E estão correndo para longe de mim. Não entendo. Passo em frente aos vidros de uma janela e pude me lembrar como havia chegado até onde estava. Tinha me esquecido que estava preso naquele corpo. E que a claustrofobia era inevitável.

Ensaios sobre a Amargura e Felicidade da Alma 2 - "O Real me dá asma"

Os homens mudam e a sociedade impôs ao intelecto humano uma condição de quase constante auto-contemplação. Autóctones dessa esfera a que chamamos "Terra", o homem tem desafiado até as leis da natureza, a mesma que é o pilar (e não deixa de ser mais de um) de sustentação da vida. Nenhuma objeção quanto à desafiadora e complexa teoria da evolução darwniana das espécies, mas o homem desevolucionou quando se trata de variados aspectos que transcendem o aspecto físico. Os computadores, as fábricas, o capital e incontáveis coisas não são fatores demasiadamente convincentes para sustentar a ideal evolução, são apenas provas da capacidade do universo dos neurônios de criar e de adaptar. Perdemos os pêlos corporais (ou ao menos parte deles), andamos em posição ereta, desenvolvemos um polegar opositor. Esse mesmo ser, o rei dos reis da monárquica teia alimentar, criou uma sede insaciável movida pela curiosidade (para não dizer ganância). Cambaleantes numa corda bamba os homens procuram meios de driblar a inevitável e temida morte. O que se ganhou em velocidade de acesso à bens também ganhou-se em rapidez de auto-destruição. O planeta chora com a mesquinhez. As cidades são contruídas por sobre o sangue dos escravos (ou quase) que são acorrentados pela metafórica corrente do egoísmo humano. A banalização dos laços afetivos cresce numa curva quase reta, abolindo a humanidade que ainda paira no ar. Agora as guerras destroem mais, agora a tortura economica e psicológica reina ainda mais nos campos de batalha. As atrocidades enforcam meus pulmões que se contorcem com uma ferocidade temerosa. E é nesse momento que se vê alguém dando um sanduíche para um morador de rua. E é assim que me dou (falo em primeira pessoa para enfatizar meus sentimentos) o direito ou quase reconforto de um único pensamento: Para o futuro, nunca é tarde demais.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Aforismo Esquizofrênico

O problema de se falar com as paredes é a possiblidade de um dia elas começarem a reponder.

Ensaios sobre a Amargura e Felicidade da Alma 1 - "Entediar-se é mascarar o tempo"

Em meio á um turbilhão (utilizando um eufemismo) de coisas, nasceu no interior de minhas vísceras uma idéia, e talvez nada seja realmente mais forte do que essa idéia. O mais difícil não é tê-la, mas sim cultivá-la e desenvolvê-la na esperança de que um dia ela passe a ser real e não apenas inteligível. Vou chamá-la de um ensaio pois estou ensaiando parte da minha realidade, estou exercitando meus pensamentos cada vez mais no intuito de algum dia aperfeiçoar a essência que está por trás deles. A amargura e a felicidade são os verdadeiros paradoxos e antítese que existem, e atraledos entre si, conduzem as emoções e são o bastão da alma cega, que está sempre a procura de um não sei o quê que talvez nem a filosofia seja capaz de propor. E a alma nada mais é do que nosso próprio mundo, do que uma metáfora reconfortante (ou não) para essa coisa que denominamos vida. O aleatório talvez seja uma das únicas coisas no ser humano que sobreviveu autêntica depois de muitos anos e regimes e paixões e teoremas. Por isso, abuso da aleatoriedade ao escrever estes textos, seja para construir ou desconstruir sonhos e idéias minhas ou para desafiar minha própria rotina com uma pitada de inesperado. Num mundo incessante, o momento de tédio é quase uma ilusão, uma utopia. E esta utopia é a que pretendo explorar no intuito de ver se o tédio é o exercício do nada ou o exercitar de algo. Sem márcaras, sem tempo e sem pretensões demasiadamente marcantes, embarco agora numa viagem só de ida rumo ao desconhecido. E a sensação jamais foi tão boa.

Os títulos...
Silogismos da Amargura
                       Emil Michel Cioran (1911-1995)